Cenas do cotidiano
Laurinda nos presenteia com uma sensível poesia sobre o sofrimento cotidiano das crianças que vivem a violência da guerra. CENAS DO COTIDIANO Com olhos de águia sobrevoei a Terra. Vi crianças estendidas no chão de madeira. Escondidas atrás da cama. Braços cobrindo a cabeça. Vislumbro nelas o medo. O terror do que acontece lá fora. O terror das balas que podem eliminá-las. Elas sabem. Conhecem o barulho dos estampidos, dos gritos, das correrias. Vi a menina pisando devagar os escombros. Olhar atento. Com um pequeno galho, pá improvisada, tenta levantar as pedras, a ramagem da árvore caída. Vasculha ao redor. Procura. O quê? Agachou-se. Com as mãos esgaravata a terra. Retira com delicadeza o corpo da pequena boneca. Acalentou-a. Na rua deserta, só poeira e entulhos. Chorou. Vi meninos correndo para dentro da viela. Depois, tiros. Bombas. Gritos vindos das janelas chamam por eles. João, Om...