Postagens

Cenas do cotidiano

Laurinda nos presenteia com uma sensível poesia sobre o sofrimento cotidiano das crianças que vivem a violência da guerra.   CENAS DO COTIDIANO Com olhos de águia sobrevoei a Terra.   Vi crianças estendidas no chão de madeira. Escondidas atrás da cama. Braços cobrindo a cabeça.   Vislumbro nelas o medo. O terror do que acontece lá fora. O terror das balas que podem eliminá-las. Elas sabem. Conhecem o barulho dos estampidos, dos gritos, das correrias.   Vi a menina pisando devagar os escombros. Olhar atento. Com um pequeno galho, pá improvisada, tenta levantar as pedras, a ramagem da árvore caída. Vasculha ao redor. Procura. O quê? Agachou-se. Com as mãos esgaravata a terra. Retira com delicadeza o corpo da pequena boneca. Acalentou-a.   Na rua deserta, só poeira e entulhos. Chorou.   Vi meninos correndo para dentro da viela. Depois, tiros. Bombas. Gritos vindos das janelas chamam por eles. João, Om...

Sobre o trabalho “Uma clínica extramuros. Habitando a ternura, construindo um sujeito ético” de Diego Lain Blanco Diaz, ganhador do concurso Jorge Rosa

Ainda embalados pelas boas ressonâncias do congresso FLAPPSIP, Fernanda Borges nos presenteia com um belo texto sobre a inspiradora apresentação de um jovem chileno.   SOBRE O TRABALHO “UMA CLÍNICA EXTRAMUROS. HABITANDO A TERNURA, CONSTRUINDO UM SUJEITO ÉTICO” DE DIEGO LAIN BLANCO DIAZ, GANHADOR DO CONCURSO JORGE ROSA [1] por Fernanda Borges* O jovem psicanalista chileno inicia sua apresentação protestando contra a ideia defendida na conferência do final da manhã de que clínica psicanalítica e política não se misturam. Sua formação marcada pela experiência na Clínica La Borde, pela Psicoterapia Institucional, pelo conhecimento da Maison Verte e sua prática clínica extramuros, lhe diziam o contrário. Seu texto toma como ponto de referência a pergunta feita por Derrida: “onde começa e onde termina a crueldade?” [2] . Articula algumas ideias, cita alguns autores (Laplanche e Silvia Bleichmar) e nos descreve uma situação clínica ocorrida numa Casa de Acolhimento de cr...

Homenagem a Isildinha Baptista Nogueira, uma analista negra

Ao comentar a fala de Izildinha Baptista Nogueira na FLAPPSIP, Renata Cromberg tece uma linda homenagem     HOMENAGEM A ISILDINHA BAPTISTA NOGUEIRA, UMA ANALISTA NEGRA A conferência magistral de Isildinha, em 16 de outubro de 2025, foi certamente o acontecimento maior do excelente XII Congresso Latino-americano da Flappsip, cujo tema foi Eros, Alteridade e Criatividade em Tempos de Assombro. O Pulso atual da Psicanálise , com mais de 150 significativas falas. Provocou duas ovações de muitos minutos, as pessoas emocionadas e muitas com lágrimas nos olhos pelo impacto de sua genial reflexão sobre a constituição psíquica da subjetividade negra. A apresentação realizada por Roberta Kehdy foi muito calorosa e carinhosa e trouxe presente toda a ancestralidade de Isildinha. E ela começa sua conferência dizendo a que veio e de onde fala: “sendo eu uma analista negra”. Linda em suas tranças prateadas e sua roupa branca, marcas afirmativas de sua origem, ela fala o te...