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Pranto para Samia Yusuf Omar (1991-2012)

“Corro com ela. Aflita. Presa na poltrona do cinema”. Foi sob este impacto que M Laurinda R. de Sousa escreveu este lindo, mas difícil texto sobre Samia e seu destino. Confiram: PRANTO PARA SAMIA YUSUF OMAR (1991-2012) Samia! Samia! Samia! Uma corrente de vozes solidárias ecoa com força. As pessoas levantam-se.  Se possível fosse, correriam junto com ela.          Não foi Samia quem subiu ao pódio dos Jogos Olímpicos de Verão de 2008, em Pequim. Chegou ao final, mas a vitória foi dela. No retorno para casa, o aviso tantas vezes anunciado: “Tome cuidado; sua vida corre perigo”. Samia fez um longo percurso até chegar a Pequim. Desde pequena corria pelas ruas esburacadas de Mongadíscio, subia pelas calçadas que abrigavam materiais à venda, entrava pelas vielas, enfrentava os gritos dos vendedores espalhados nas feiras cotidianas, o assédio dos militantes locais; muçulmanos que não toleravam essa menina mais veloz que o vento, mais veloz que os outros companheiros da mes

O Pai da Horda Pós-Moderna

Em O Pai da Horda Pós-Moderna ,  Daniel Modós faz uma retrospectiva histórica da modernidade para tentar compreender como chegamos no momento atual em que postos de liderança são ocupados por Mileis, Trumps e Bolsonaros. Qual função o líder pós-moderno exerce? Qual ideologia ele encarna? Há esperança de mudança?    O PAI DA HORDA PÓS-MODERNA O que aconteceu com os líderes modernos? Onde andarão os Churchills, os Roosevelts, até os Stalins... aquelas figuras sólidas, verdadeiros bastiões, práticos, operacionais, hiperracionais até as raias do absurdo, em uma palavra: autoridades seguras que encarnavam os ideais de ordem, razão e praticidade da Modernidade. De algum tempo para cá temos nos surpreendido com a proliferação de líderes mundiais bufões, ridículos e espalhafatosos, que se colocam como “outsiders”, figuras disruptivas que lutam contra o que chamam de “O Sistema”. Essas figuras obscenas que parecem zombar da política que praticam já vem desde há muito (pense num Jânio Q

Sobre viver com o fascismo

Ivan Martins discute as consequências preocupantes da eleição de Donald Trump e como sobreviveremos à consolidação do poder neofacista que afeta a todos nós. SOBRE VIVER COM O FASCISMO A eleição americana liquidou a esperança de que pudéssemos voltar aos tempos normais neste planeta conturbado. O fascismo, a misoginia e a religiosidade reacionária triunfaram pelo voto popular no país mais rico do mundo - que é também o mais poderoso militarmente e o mais influente em termos de ideologia. Isso terá consequências sobre o resto de nós. É doloroso perceber que Donald Trump se elegeu com um discurso descaradamente misógino num país onde as eleitoras são maioria e costumam votar em maior número. Imaginava-se que seus delírios masculinistas – e a ofensas chulas que ele e seus cúmplices dirigiram a Kamala Harris – pudessem afastar em massa o eleitorado feminino, mas isso não aconteceu. O macho arrogante e mentiroso que criou as condições para a eliminação jurídica do direito ao aborto -

“Pede-se fechar os olhos”, “Pede-se fechar as câmeras” – viagem de um sonho de outubro de 1896 para a necropolítica de outubro de 2024

“E nós com isso, para o que olhamos? O que sonhamos? O que nos é invisível pelo excesso de luz? O que recusamos a ver em meio ao breu?” Assim Tânia Corghi Veríssimo nos interpela, ao encerrar seu contundente texto, escrito em tons de uma necessária inquietude. Confiram:   “PEDE-SE FECHAR OS OLHOS”, “PEDE-SE FECHAR AS CÂMERAS” – VIAGEM DE UM SONHO DE OUTUBRO DE 1896 PARA A NECROPOLÍTICA DE OUTUBRO DE 2024 Todos nós conhecemos a famosa expressão freudiana: “Pede-se fechar os olhos” ou “Pede-se fechar um olho”. Advinda de um sonho narrado em outubro de 1896, teve como ocasião a morte de seu pai, Jacob, e despontou em Freud como um aviso em cartaz, uma recomendação/advertência a quem se envergonhava de ter organizado um funeral deveras modesto a os olhos de seus familiares e a um filho que deveria agora fechar os olhos (ao menos um olho) para os aspectos reprováveis da personalidade de um pai que acabara de perder. Desse trecho podemos extrair de imediato um pensar sobre a culp

Domingo de Eleição

Maria Silvia Borghese escreve um texto baseado na palestra realizada por Jurandir Freire Costa no encerramento do Congresso de Psicopatologia realizado em setembro deste ano em Recife, em que ele faz uma reflexão sobre as anomias atuais e destaca como o trauma cultural não afeta apenas os grupos sociais vulneráveis, mas também aqueles que perpetuam a opressão. Confiram.   DOMINGO DE ELEIÇÃO  i O dia está cinzento lá fora, ameaça chover. Maria se vira preguiçosamente na cama e cogita nem sair para votar. Mas, o que dirá ao pastor, aos pais, a irmãs e irmãos da igreja? Nome e número do candidato estão tatuados em sua mente, ouviu incessantes exortações sobre aquela pessoa escolhida e ungida pelo Senhor. Ele, sim! Essa pessoa vai garantir que a cidade volte aos trilhos, uma cidade para famílias conservadoras, homens de bem, mulheres recatadas e obedientes, as coisas precisam voltar a ser o que eram antes. Maria espia novamente o dia meio tristonho l

Congresso de Psicanálise e Sexualidades - Quem ‘dá’ para falar de sexualidade hoje?

Caio Romano , organizador do  Congresso Psicanálise e Sexualidades , realizado na  Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) no dia 31 de agosto de 2024, nos apresenta as mesas do evento com os temas gênero, pornografia, masturbação, prostituição e perversão.    CONGRESSO DE PSICANÁLISE E SEXUALIDADES - QUEM ‘DÁ’ PARA FALAR DE SEXUALIDADE HOJE? André Green, na conferência de aniversário de Sigmund Freud, em abril de 1995, intitula seu texto com uma provocação: Sexualidade tem algo a ver com psicanálise? Essa pergunta nos ecoa até hoje. A sexualidade ainda faz parte da psicanálise? E, se faz, aonde ela foi parar? A vontade de trazer novamente um destaque a esse tema, no campo da psicanálise, me fez organizar, juntamente com a Christiana Oliveira, um congresso de Psicanálise e Sexualidades. O Congresso de Psicanálise e Sexualidades - Quem ‘dá’ para falar de sexualidade hoje? , ocorreu na Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) no dia 31 de agosto de 2024 e, teve o apoio da AP

Uma intervenção grupal com líderes de comunidades ribeirinhas e quilombolas na região amazônica

O Blog abre espaço para os grupos de estudo, trabalho e pesquisa do Departamento apresentarem suas produções. Hoje publicamos o texto de Flávio Veríssimo , integrante do grupo Faces do Traumático, que nos conta sobre o belo trabalho de suporte e elaboração com diversos grupos de diferentes instituições e localidades do Brasil durante o período da pandemia. Confiram! UMA INTERVENÇÃO GRUPAL COM LÍDERES DE COMUNIDADES RIBEIRINHAS E QUILOMBOLAS NA REGIÃO AMAZÔNICA Durante a pandemia, vários grupos de trabalho do Sedes foram convocados a intervir em situações emergenciais que se configuraram por todo o país. Coube ao Grupo de Trabalho e Pesquisa Faces do Traumático realizar várias intervenções em montagens e configurações que foram se ajustando às diferentes demandas que nos chegavam, todas elas online e por meio de dispositivos grupais. Abaixo listamos as sete ações realizadas pelo Faces do Traumático: 1)     Hospital público de Osasco: no início da pandemia, organizamos um grupo d