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Mostrando postagens de 2020

Uma situação inesperada: efeitos do ódio como discurso político

  O Blog do Departamento de Psicanálise encerra as atividades do ano com o belo relato de Maria Laurinda R. Souza , professora do Curso de Psicanálise. Seguimos pensando e elaborando conjuntamente em 2021!   UMA SITUAÇÃO INESPERADA: EFEITOS DO ÓDIO COMO DISCURSO POLÍTICO Mas existe nesta terra/muito homem de valor/ ... que gosta de sua gente/ e que luta a seu favor, como Gregório Bezerra, f eito de ferro e de flor. (Ferreira Gullar. História de um Valente)   Um dia, a senhora que trabalha em minha casa, ao perceber meu interesse pelos livros, entregou-me uma pequena pasta com folhas soltas e me pediu para tentar fazer uma publicação.   Explicou-me que o pai lhe entregara esses textos quando estava muito doente pedindo que os guardasse com cuidado e, se um dia fosse possível, os tornasse públicos. Tinham, para ele, um grande valor afetivo pois foram escritos por seu irmão que havia sido perseguido, torturado e expulso do país.   Um pouco constrangida por me fazer o pedid

Eleição, Alienação, Identificação

Nosso colega Ivan Martins analisa o resultado do segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo.  Confira:  ELEIÇÃO, ALIENAÇÃO, IDENTIFICAÇÃO Por Ivan Martins* É natural que um partido político que representa a elite econômica do país vença sistematicamente as eleições na periferia pobre e abandonada de São Paulo? Eu me fiz essa pergunta no domingo, quando ficou claro não apenas que o candidato do PSDB venceria de novo, mas que o faria de maneira categórica, ganhando em 50 das 58 zonas eleitorais e entregando ao candidato da esquerda a pior derrota em segundo turno nos bairros afastados desde 1996. O que faz com que uma multidão de trabalhadores precarizados, cujas vidas são regidas por escassez e instabilidade, votem repetidamente no partido das classes abastadas, cujo programa essencial tem sido, nas últimas três décadas, ampliar e aprofundar a precarização? A explicação geral desse fenômeno foi dada por Marx no século XIX com o conceito de alienação política: a id

HOME OFFICE

O trabalho em home office se intensificou durante a pandemia e parece que veio para ficar. Por isso, procuramos para conversar nossos colegas do Projeto Laborar: saúde psíquica do trabalhador que atende trabalhadores que tiveram sua saúde psíquica afetada prioritariamente pelo trabalho. Confiram a seguir a entrevista com Pedro Mascarenhas, membro   da equipe desse projeto foi Pedro.   HOME OFFICE* 1)     Estudos mostraram que 46% das empresas no Brasil utilizaram o home office como meio de enfrentar a pandemia do coronavírus. Muitas empresas pretendem adota-lo de forma permanente: quais as vantagens e desvantagens para o trabalhador? O teletrabalho e o home office já existiam antes da pandemia, em menor escala. Mas, na pandemia, transformou-se num laboratório de experimentação de práticas laborais ligadas às práticas de precarização que já vinham em plena implementação antes da pandemia. Sempre, no Brasil, convivemos com a intensa exploração do trabalho e a consequente prec

Carta à “analista em linha

O Blog publica hoje o texto-carta para uma analista em linha, escrito por Renata Calife Fortes .   CARTA À “ANALISTA EM LINHA” (1) Renata Calife Fortes   Em março de 2020 todas as portas automáticas se fecharam. Esta imagem me remeteu a deliciosa série do Agente 86 exibida nos anos 70, você se lembra? Nela, o personagem andava e as portas iam fechando-se atrás dele num ritmo constante, até que ele se deparava com uma cabine telefônica. Era o recurso que restava. Você me comunicou que os atendimentos passariam a ser realizados em linha. Fiquei sabendo que os analistas estavam testando algumas modalidades: com ou sem tela. Pensei que de acordo com cada atendimento, o perfil do paciente, os sintomas, o momento da análise, escolheriam um recurso em detrimento ao outro. Eu, era uma paciente que já usava o divã, fato que, confesso no meu imaginário, dava um ar de maturidade ao meu processo analítico, fiquei aguardando meu veredicto. Fui alçada a categoria, “só lin

Angústias são braços debruçados em varandas vazias

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  No Blog do Departamento um texto/poema do colega Alcimar Alves de Souza Lima .   Angústias são braços debruçados em varandas vazias Angústia é tensão que ainda não ganhou extensão em palavras.   Nesse nó congelado, saídas não existem. Prisão sem janelas, sem grades. Grades permeiam a luz do sol, ventos e brisas. Angústia, quarto escuro. Quarto escuro potência em si, lá habita o instante sem nome. Sensação. Naquele cubículo somos. Sensações. Ora, ora. Tudo parecia tão denso, profundo, agora angústia é uma sensação. Intensidade dor, intensidade cegueira, intensidade pressão.   Nunca tinha pensado que angústia era uma sensação e esta palavra angústia, carrega em si uma força asfixiante. Instante, intensidade dor, vestindo-se de angústia.   Angústia é uma tensão que ainda não ganhou extensão em palavras. Um momento mágico pulsa, pulsam os períodos, tempos nos quais escorrem chuvas que molham os parágrafos dos livros. O segredo secreto que vivemos, é

Voltar ou não voltar?

Caros colegas apresentamos hoje no Blog uma breve reflexão de nossa colega Gisele Senne de Moraes sobre o retorno aos consultórios Voltar ou não voltar? Como muitos, tenho me questionado sobre o momento de voltar a atender no consultório. Alguns (poucos) já voltaram para atendimentos presenciais, regularmente ou pontualmente, para uma sessão em especial, para um paciente em particular. Como tem sido esta experiência? Como voltaremos? Mascarados? Dá para escutar bem o paciente que fala usando máscara? Bom, nem pensar em ar condicionado, certo? Mesmo no calor de 40º de um dia de verão? Janela aberta? E barulho da rua, mosquitos no final da tarde? Uma janela só, mais de uma janela? Mudança na configuração da sala, para que poltrona e divã mantenham distanciamento social? Sala de espera fechada com certeza, nada de paciente chegando antes... E café e água? Talvez uma aguinha com copos descartáveis? Banheiro higienizado a cada novo paciente? Rola colocar uma placa solicitando que a p

Puerpério e pandemia, um capítulo difícil de contar!

  Como mães e pais tem vivido o nascimento de um filho durante na pandemia? O texto de Renata Calife Fortes trata de questões relacionadas a essa experiência. Confiram! PUERPÉRIO E PANDEMIA, UM CAPÍTULO DIFÍCIL DE CONTAR! Renata Calife Fortes O casal que está à espera do bebê sonha, planeja como será o parto, que nome será dado ao menino ou menina, com quem será parecido, as lembrancinhas, a decoração do quarto, a maternidade. Enfim, estes aspectos, que por vezes tomam um caráter material, tem a função de criar uma rede de afetos que conta para o bebê a sua história familiar, mesmo antes de ele ter nascido. Este ano, a história precisou incluir o capítulo da Pandemia. A clínica psicanalítica tem escutado a dificuldade dos casais em encaixar este desdobramento real no cotidiano da nova família com um novo bebê. Quando nasce um filho, o casal, ao deparar-se com a nova função, faz uma ressignificação de suas identificações. Há de se incluir na sua auto imagem de mulher, filha,