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Mostrando postagens de 2021

Fala, homem! (Reflexões clínicas sobre os atendimentos de um grupo de escuta de homens)

O Blog publica um texto das psicanalistas Cristiane Gomes e Sabrina Arini , do grupo "Fala, homem!", contando suas impressões sobre a construção da masculinidade e sobre a escuta do sofrimento envolvida em um ideal de homem presente em nossa sociedade. FALA, HOMEM! (REFLEXÕES CLÍNICAS SOBRE OS ATENDIMENTOS DE UM GRUPO DE ESCUTA DE HOMENS) Por Cristiane Gomes e Sabrina Arini E o que falam os homens? Ou, melhor colocado, o que escutamos, enquanto psicanalistas, nesta fala? Como ruído de fundo, perpassando todo o discurso, uma surpreendente e flagrante fragilidade da posição masculina. O suposto sexo forte, escorado por seus inquestionáveis privilégios históricos, se revela permanentemente por um fio. Um integrante do grupo chega para o encontro visivelmente alterado, e relata o assédio que acaba de sofrer, de um outro homem, no metrô. Se diz afrontado: - Ele achou que eu não era homem? A masculinidade parece estar sempre em risco, precisando ser provada a todo m

ENTRE OS FIOS DA HISTÓRIA E DA ESCRITA: o Índice Temático da Revista Percurso

Nossa colega Flávia Ripoli Martins nos conta sobre a organização do Índice Temático da Revista Percurso e sua contribuição junto à nova edição do Índice,  que contempla os números 51 a 65 da revista do Departamento.   ENTRE OS FIOS DA HISTÓRIA E DA ESCRITA: o Índice Temático da Revista Percurso                                       Flávia Ripoli Martins   Publicada pela primeira vez no ano de 1988, Percurso foi criada, conforme registrado em seu primeiro Editorial (1988, p. 6), “como suporte de uma tessitura, feita de fios de diferentes escritas”, onde “os conceitos clínicos e teóricos são relançados, postos a trabalhar, num movimento de contínua recriação”. Após sessenta e cinco edições, ao longo dos últimos 33 anos, a Revista do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae publicou uma quantidade substanciosa de trabalhos, cujo acesso requer uma ferramenta de busca ágil, passível de tornar a riqueza desse material acessível ao leitor ou pesquisador. Com esse

Impressões sobre o evento Experiências Transidentitárias – ressonâncias no campo clínico-político, familiar e social,

Janete Frochtengarten, colega do Departamento de Psicanálise, relata de forma sensível suas impressões sobre o evento Experiências Transidentitárias – ressonâncias no campo clínico-político, familiar e social , realizado pelo Grupo Generidades do Departamento de Psicanálise do Sedes Sapientiae no dia 23 de outubro deste ano, um acontecimento forte, intenso, que abordou questões importantes para todos que se dedicam à escuta humana. O evento “Experiências Transidentitárias – ressonâncias no campo clínico-político, familiar e social” realizado pelo Grupo Generidades do Departamento de Psicanálise do Sedes Sapientiae aconteceu no dia 23 de outubro deste ano. Um acontecimento forte, intenso, que repercutiu até mesmo no dia seguinte, um domingão, em mensagens/Whatsapp que voavam, febris, entre colegas e amigos. Começando... Alguns pontos de vista divergentes vindos de textos de psicanalistas nos anos – nem tão longínquos – da década de 2010. Michel Schneider e Pierre Legendre (20

Viver em companhia da morte: Em defesa da demissão por justa caus

A análise do humor presente nos memes pandêmicos inspira Maria Laurinda R. Souza , colaboradora do Blog e professora do curso Psicanálise Teoria e Clínica, a jocosamente ensonhar um emergente seco em nossas gargantas "você está demitido, Nosferatu!".   VIVER EM COMPANHIA DA MORTE:  EM DEFESA DA DEMISSÃO POR JUSTA CAUSA. Este texto foi escrito em setembro, logo após o fatídico pronunciamento do dia 7/9. As charges e memes que imediatamente ocuparam os meios de comunicação, reavivaram em mim, talvez por contraste das imagens, o que, desde o início da pandemia, havia despertado minha atenção: uma série de memes utilizando a figura da Rainha Elizabeth. Mais frequentes nos primeiros meses, pareciam apelar para a possibilidade de vencer a morte por uma identificação mágica com sua figura: Conheci Jesus Cristo: era uma criança muito alegre Amo o Egito! Lembro de muitas baladas com minha amiga Cleópatra. Uma fofa! Antigamente eu criava tartarugas, parei porque a gente aca

Entrevista de análise em tempos de pandemia

  Fundadora do Blog, nossa colega Fernanda Borges discute, com sensibilidade e do ponto de vista do analista, questões da clínica sobre as primeiras entrevistas em tempos de pandemia. ENTREVISTA DE ANÁLISE EM TEMPOS DE PANDEMIA Outro dia, em uma conversa, uma amiga psicanalista comentava de seu mal-estar em receber para primeiras entrevistas de análise pessoas que estavam entrevistando mais de um psicanalista, às vezes até 3 ou quatro. Recentemente passei por experiências semelhantes. A situação não é inédita, entretanto, no passado, parecia menos frequente. A pandemia deflagrou uma onda de sofrimento: a vida passou a ser questionada, o home office aproximou as famílias, mas também foi responsável pelo aumento no número de divórcios e de violência doméstica. A não divisão entre trabalho e casa aliado ao isolamento social e ao fechamento das atividades de lazer habituais produziram um aumento de horas trabalhadas e de casos de burnout. Vimos aumentar o número de pessoas com queix

‘Onde estava o Isso, o Eu deve advir’: caminhos da clínica contemporânea por René Roussillon

Nossa colega Camila Junqueira conta ao Departamento de Psicanálise suas impressões sobre a palestra do psicanalista René Roussillon, intitulada Análise das Necessidades do Ego, organizada pelo Centro de Estudos Psicanalíticos em 18/09/21. Confiram no Blog . ‘Onde estava o Isso, o Eu deve advir’: caminhos da clínica contemporânea por René Roussillon Camila Junqueira Na ensolarada manhã do dia 18 de setembro de 2021, René Roussillon nos brindou com sua instigante palestra sobre a ‘análise das necessidades do ego’, organizada pelo Centro de Estudos Psicanalíticos em São Paulo. Isto sem sair do conforto de sua casa, em Lyon, certamente um ganho, entre tantas mazelas, que a pandemia de covid-19 nos trouxe. Ao falar sobre as necessidades do ego, Roussillon nos lembrou que a dedicação ao estudo do Eu não se dá sem certa polêmica, ao menos na França, desde que Lacan propôs, através de seu retorno a Freud, a importância da ‘lógica do desejo’ e do afastamento dos engodos do campo imagin

A mente do analista

Ivan Martins resenha "A mente do analista", de Luis Claudio Figueiredo, livro em que ele se empenha em apresentar aspectos do que considera a boa escuta psicanalítica – aquela que, alimentada pela ética da reserva, procura o susto e o inesperado, em vez da segurança da repetição.    A MENTE DO ANALISTA Ivan Martins A passagem que dá nome ao romance “O apanhador no campo de centeio”, de Salinger, é o relato de um sonho. O sonhador adolescente descreve um campo de centeio e, nele, crianças que correm felizes, inadvertidas para o penhasco que margeia o lugar. Ele sente que gostaria de estar ali para sempre, protegendo as crianças, apanhando-as antes que caíssem do penhasco. O professor Luís Claudio Figueiredo usa essa imagem poderosa para definir, em seu novo livro, a ambição onipotente (tanto perigosa quanto, em alguma medida, essencial) que inspira o trabalho dos analistas - a de salvar seus pacientes, e talvez, como no sonho reparatório de Salinger, salvar algo de si