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Mostrando postagens de julho, 2020

Primeiras Palavras numa Manhã Tardia

Hoje no Blog do Departamento tem poesia do nosso colega Thiago Majolo . Confiram! PRIMEIRAS PALAVRAS NUMA MANHÃ TARDIA Agora que a luz alaranjada do oriente tromba no topo dos edifícios e se esquiva e o horizonte renova a silhueta da cidade voltemos a nos deitar nas horas gastas com a saudade de um nada manifesto entre roupas e lençóis largados no chão e nos poupemos por mais algum tempo das exigências da grande máquina. Lá fora a autoridade de mãos sangrentas reitera a pureza de sua imagem sangrada. Cá dentro defendemos o sangue guardado e esqueçamos o lado de lá do acontecimento pelo acontecer majestoso dos interiores. Há uma reconciliação a ser feita entre nós sempre tão desiguais em cheiros e ideias. Nos espreguiçaremos nus como no sétimo dia. Eu aprendendo no olfato a sua lavanda você degustando a minha macieira. A pressa tem nos colonizado por ponteiros que rodam a voltar num sem parar tedioso. Então nos estiquemos no ócio do

A tela como portal

Como trabalha um psicanalista com crianças durante a pandemia? A seguir, Daniela Danesi nos fala de sua experiência na construção e fazer clínico do setting de atendimento remoto com crianças neste período. A TELA COMO PORTAL Inspirada pelo texto de Mira Wanjtal ( https://deptodepsicanalise.blogspot.com/2020/06/pandemia-pandemonio-pensando-os-novos.html ), publicado em 29 de junho de 2020 nesse Blog, que escrevo aqui, como uma espécie de conversa, quase um diálogo, a partir das ressonâncias dessa leitura e do que experiencio com as crianças que acompanho em análise. Em meados de março, como a maioria de meus colegas, decidi passar todos os meus atendimentos de analisantes jovens e adultos para o modo on-line devido à Pandemia que já se apresentava em nosso país. Ingenuamente me apeguei ao significante quarentena, imaginando que por volta de maio retornaria aos atendimentos presenciais e decidi ligar para as crianças, conversar uma a uma sobre esse período de interrup

O Instituto Nebulosa Marginal: um novo espaço de transmissão psicanalítica

Os psicanalistas Sergio Gomes e  Rosa Lúcia Paiva falam sobre o  Instituto Nebulosa Marginal criado para praticar u ma psicanálise crítica, mais viva e humanamente mais útil e que na pandemia através do Projeto Covid-19, realiza atendimento gratuito para a população vitimada pela epidemia e pelo isolamento social.  O INSTITUTO NEBULOSA MARGINAL: UM NOVO ESPAÇO DE TRANSMISSÃO PSICANALÍTICA Sergio Gomes Rosa Lúcia Paiva Na atualidade, muito está sendo pensado, pesquisado e estudado acerca de uma psicanálise para além dos portais e porões da IPA. O legado deixado por Sigmund Freud fez surgir uma psicanálise crítica, instigante e principalmente que dialogue com a filosofia, a medicina, as ciências sociais e um mundo contemporâneo em evolução. Uma psicanálise cada vez mais viva e humanamente mais útil. A prática clínica se tornou pluralista e cada vez mais preocupada com a relação transferencial e contratransferencial, sobre a transmissão psíquica intergeracional, a corpo

Amor e Morte nos Tempos do Corona

Nosso colega Daniel Modós nos conduz a uma viagem pelo realismo fantástico de Gabriel Garcia Márquez para pensar a atualidade.  Amor e Morte nos Tempos do Corona Na abertura de Amor nos Tempos do Cólera, Gabo nos avisa no primeiro capítulo, não, antes, no título mesmo, que a sua não é tanto uma narrativa do Amor invencível contra todas adversidades como é uma história sobre o amor em um tempo, na marcha do tempo, inexorável, com a ainda mais inexorável morte sua companheira e, por fim, aliada.   Se engana quem busca a eternização do amor concretizada pela paixão de meio século entre os dois personagens principais Florentino Ariza e Fermina Daza: a história do amor superando a morte é tema, mas não é a solução no livro. Sim, a paixão adolescente de Florentino resiste cinquenta anos, atravessa a incerteza, a rejeição e o casamento da amada com outro, perdura pela virada do séc. XIX e sobrevive, é claro, ao cólera que assolava a região, assim como à guerra civil, e à cruel de

Estalos

No Blog  hoje o texto/poema de Sergio Telles. Estalos Sérgio Telles Na madrugada, a madeira estala dizendo coisas que tento adivinhar.     Estaria saudosa da árvore que foi um dia - as raízes cavando laboriosas no duro e denso fundo da terra, as folhas lá em cima balançando ao vento leve, as nuvens, a luz do sol, a chuva, o voo dos pássaros? Lembraria o suplício da serra elétrica esquartejando sua carne, dos pregos nela cravados? Protestaria contra a prisão perpétua a que está condenada sem ter cometido crime algum, para sempre transformada em portas, janelas, gavetas, cômodas, guarda-roupas? Temeria os cupins que a corroem por dentro, transformando-a lentamente em pó? Antes os estalos eram maldosos e se compraziam em aterrorizar o indefeso menino insinuando que a escuridão do quarto estava prenhe de horrendas assombrações do outro mundo, inquietas almas penadas que vagavam pelo mundo em busca do postergado repouso. Sergio Telles é psicanalista, membro do D