Voltar ou não voltar?
Caros colegas apresentamos hoje no Blog
uma breve reflexão de nossa colega Gisele
Senne de Moraes sobre o retorno aos consultórios
Voltar ou não voltar?
Como muitos, tenho me questionado sobre
o momento de voltar a atender no consultório. Alguns (poucos) já voltaram para atendimentos
presenciais, regularmente ou pontualmente, para uma sessão em especial, para um
paciente em particular. Como tem sido esta experiência?
Como voltaremos? Mascarados? Dá para
escutar bem o paciente que fala usando máscara? Bom, nem pensar em ar
condicionado, certo? Mesmo no calor de 40º de um dia de verão? Janela aberta? E
barulho da rua, mosquitos no final da tarde? Uma janela só, mais de uma janela?
Mudança na configuração da sala, para que poltrona e divã mantenham
distanciamento social? Sala de espera fechada com certeza, nada de paciente
chegando antes... E café e água? Talvez uma aguinha com copos descartáveis? Banheiro
higienizado a cada novo paciente? Rola colocar uma placa solicitando que a
pessoa higienize o ambiente antes e depois de usar? Higienizar com álcool e
papel descartável, claro! E o aroma de álcool pelo ar? Esterilizador de ambientes
funciona? Gente, e divã, hein? Não dá para ficar passando álcool o tempo todo,
estraga couro, não limpa tecido... Talvez cobrir com protetor descartável de
papel, como em consultas médicas, hospitais, laboratórios... Melhor TNT? Descarta
o TNT após o uso ou lava? Quem sabe mantas para sofás trocadas a cada novo
paciente, para tentar oferecer um ambiente mais acolhedor, mais aconchegante?
Mas haja sabão em pó! E quanto lixo descartável! Estava tão feliz de ter
abolido os descartáveis do consultório, menos entulho no nosso planeta, futuro
melhor para nossos filhos...
A sala de análise é um convite à
intimidade “cama, mesa e banho”, escutei certa vez, já não me lembro de quem ou
quando. Nem vou perguntar como estes aspectos têm (ou se têm) se manifestado no
espaço analítico virtual, metaforicamente nossa sala de análise atual. Mas com
tanta precaução e preocupação com limpeza, tanto receio envolvendo o contato,
como os pacientes (e nós) viveremos esse momento, tão ambiguamente esperado?
Como cuidado? Com medo? Fóbicos? Claro, cada caso é um caso, cada analista é um
analista... Mas são tantas coisas e detalhes para pensar que prefiro fazer como
a famosa (e antiga) personagem do cinema: amanhã eu penso nisto! No meu caso, ano
que vem eu penso nisto. Por enquanto, só virtual.
Gisele
Senne de Moraes é membro do Departamento de Psicanálise
do Instituto Sedes Sapientiae, doutoranda e mestre em psicologia pelo Instituto
de Psicologia da USP, onde estuda a obra de Silvia Bleichmar.
Questões todas importantes no tempo de hoje! Dilemas e desafios do novo normal?
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