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Mostrando postagens de março, 2021

A Peste e o Mytho

Não se combate o Mito com a Razão. Pode a psicanálise, ao dar lugar ao trágico, nos restituir a responsabilidade por nossa boa democracia ? Daniel Modós nos ajuda, com seu texto lúcido, a recolocar alguma ordem nessa história. Para ser lido de olhos abertos. A PESTE E O MYTHO Como, desde Freud, sabemos que tentando mandar o problema porta afora ele retorna pela janela, não me surpreendi tanto quando, tentando fugir da desalentadora realidade atual lendo sobre a história das cidades no magistral Carne e Pedra de Richard Sennet (2015 [1994]), me encontrei de cara com o tema da peste, e pior, com o problema da demagogia e do mito. Retratando a Atenas do século V a.C., o autor argumenta que o nascimento da democracia na época de Péricles assentou-se sobre um confronto fundamental, não de todo infamiliar para nós, entre duas formas de discurso: logos e mythos .  O primeiro se opõe ao segundo, visto que o discurso do logos deriva do verbo “ legein ” (reunir) em que “ logos didonai ”

HUGO BLEICHMAR (1935-2020)

No Blog um texto bem interessante de Ivan Martins , que escreve sobre o psicanalista argentino Hugo Bleichmar, que morreu em abril de 2020 em Madrid, conhecido entre nós por livros clássicos sobre depressão, narcisismo e perversão, mas também por ser o irmão mais velho de Silvia Bleichmar. Confiram   HUGO BLEICHMAR (1935-2020) Por Ivan Martins De forma quase despercebida aos seus leitores brasileiros, morreu em Madri, em 03 de abril do ano passado, o psicanalista argentino Hugo Bleichmar, conhecido entre nós por livros clássicos sobre depressão, narcisismo e perversão, publicados na década de 1980. Suas concepções sobre o psiquismo, entretanto, avançaram muito desde então, imprimindo à sua obra um caráter extremamente pessoal, distanciado em vários aspectos da ortodoxia psicanalítica. Bleichmar era o filho mais velho de um imigrante judeu lituano que chegou sozinho ao porto de Buenos Aires com 13 anos, sem falar uma palavra de espanhol. A personalidade desse comerciante tacit

Dorme a cidade. Resta um coração.

O que resta quando não se tem nada a fazer? Inventa-se. Camila Kfouri nos conta como foi sua experiência na criação da Clínica da Cidade - psicanálise pública, um trabalho necessário.   DORME A CIDADE. RESTA UM CORAÇÃO. por Camila Kfouri   A hora era tensa. Primeiro semestre de 2020. Medo, angústia e tensão tomando conta. Nós, psicanalistas aprendendo a atender online. Nós, alunos, aprendendo a aprender online. Trancados em casa. Gente adoecendo e morrendo por todos os lados. Pandemia e distopia. Um dia, um paciente que herdei da finada Clínica Pública de Psicanálise, da qual me encontrava órfã desde fevereiro, morador da Ocupação 9 de Julho, me pergunta para onde poderia encaminhar os moradores da Ocupação que se encontravam com graves questões de saúde mental. Acionei os grupos de psicanálise gratuitos em que confiava. Ninguém tinha como atender a esta demanda naquele momento. Impôs-se a mim o pensamento de que, se não existia solução, teríamos que inventá-la.