MAL-ESTAR NA MATERNIDADE: do infanticídio à função materna

O Blog do Departamento convidou Vera Iaconelli, membro de Depto de Psicanálise para falar sobre seu livro MAL-ESTAR NA MATERNIDADE: do infanticídio à função materna, que teve seu lançamento no dia 12 de novembro de 2015. Confiram:



O intuito do livro Mal-estar na maternidade: do infanticídio à função materna foi de fazer valer a reflexão psicanalítica no âmbito clínico retroalimentando a teoria, lá onde a opacidade da origem do sujeito e de seu outro contingencial parece limitar nossa escuta. Para isso buscou-se, a partir de um caso clínico em atendimento na Clínica Social do Instituto Gerar, discutir como os atravessamentos corporais, culturais e do laço social incidem sobre a perinatalidade (gravidez, parto e puerpério) e a parentalidade (exercício da função parental).

A experiência psicanalítica com pais e bebê é atravessada pelas questões da cultura e da contemporaneidade e tem corrido o risco de ser reduzida às trocas subjetivas entre mãe e bebê, ignorando de onde emerge esta relação. 

O caso descrito, no qual uma jovem tem um parto no banheiro do hospital e o joga no lixo, serve como exemplo paradigmático da disjunção entre perinatalidade e parentalidade, e acaba por permitir o vislumbre dos outros termos em jogo no estabelecimento da função parental.

Supor que a toda gestação corresponda uma maternidade é ignorar que é a subjetividade fincada na ordem simbólica que transforma a vivência corporal em experiência significativa e que estabelecer uma complementaridade entre estes termos é normatizar e, consequentemente, patologizar as contracepções, os abortos eletivos e as entregas em adoção.

Tendo como método o levantamento histórico-cultural das condições da mulher no tocante à maternidade; a discussão sobre o lugar do corpo na cultura, na medicina e na psicanálise, bem como a subjetividade referida ao laço social, buscou-se pensar o caso clínico como pano de fundo a ilustrar as questões teóricas discutidas.

Se o corpo não garante a função parental (materna e paterna), se as convenções culturais não têm conseguido sustentar a definição nem do que é bebê (diferenciando-o de um aborto, por exemplo), nem de quem é o bebê (maternidade certa e paternidade incerta, como pensávamos junto com Freud, se tornou uma ideia anacrônica em tempos de biocomércio), como pensar uma teoria da perinatalidade/parentalidade que nos permita acolher os casos nos quais a suposta “psicologia da gestação” se mostra inverossímil?

Vera Iaconelli é psicanalista, mestre e doutora em psicologia pela USP, membro do Departamento de Psicanalise do Instituto Sedes Sapientiae e diretora do Instituto Gerar.

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