Livro: VERTENTES DA PSICANÁLISE - O Hospital. A violência. A Clínica e a Escrita

Maria Laurinda R. de Souza faz um pequeno resumo sobre seu recém-lançado livro da Coleção Clinica Psicanalítica organizada por Flavio Ferraz




VERTENTES DA PSICANÁLISE

O Hospital. A violência. A Clínica e a Escrita

Este livro é o registro de um percurso itinerante. Reúne textos que circulam por diferentes temas e lugares institucionais:

. O Hospital como espaço terapêutico.
. As referências para os projetos de saúde mental a partir da década de 70. 
. As marcas da cultura na constituição da subjetividade.
. As múltiplas manifestações da violência - seus excessos e banalização. . . As condições do trabalho no mundo contemporâneo.
. A delicadeza da clínica.
. As inquietações e o prazer da escuta e da escrita. 

Se fosse possível criar um neologismo a diversidade desses temas e lugares ocuparia o espaço de uma única palavra já que, entre todos, há uma imbricação e um atravessamento mais ou menos explícito. Daí a idéia de Vertentes da Psicanálise - pois se trata do relato de experiências vertidas e construídas com  as referências desse campo.

Quando terminei o livro sobre a Violência, em 2005, tinha um novo projeto: escrever sobre a amizade. A amizade e a solidariedade como contrapontos à violência, ao desamparo e à apatia. O convite amigo de Flávio Ferraz para realizar esta coletânea modificou o projeto inicial, mas, ao final, a releitura dos textos escolhidos,  tornou evidente essa polaridade em muitos deles.

Como, por exemplo, nos textos sobre o hospital onde o conflito entre o ódio e o amor se faz explicitamente presente. Ou nas análises sobre a violência onde se enuncia a necessidade de alternativas como o espaço do sonho, da palavra e da criação e o dever,  enquanto cidadãos, de lutar pela defesa da res pública, da ética e da justiça.

Ou, ainda, na singeleza com que uma criança fala de seus medos e ensaia novas maneiras de criar marcas nos outros e suportar seu desamparo. Ou me convoca à escrita da clínica ao fazer, em um de seus desenhos, um gesto de autoria, transformando um rabisco na assinatura do nome próprio.

A escrita pode, então, ser pensada como uma tentativa de deixar marcas nos outros; um desejo de criar laços, de promover encontros e, paradoxalmente, de separar-se, de seguir por outros caminhos. É, como disse Clarice Lispector (2010), um gesto de delicadeza: “Nem tudo que escrevo resulta numa realização, resulta numa tentativa. O que também é um prazer. Pois nem em tudo eu quero pegar. Às vezes quero apenas tocar. Depois o que toco às vezes floresce e os outros podem pegar com as duas mãos” (p.23 1

Este livro é também um ato de gratidão ao legado recebido dos autores que, com seus escritos, me encantaram, inquietaram e me ajudaram na construção e reconhecimento do meu lugar de analista. É, enfim, um registro das marcas deixadas em mim pelos que, com sua presença atenta, me escutaram e pelos que, desde um outro lugar, me concederam o privilégio e a possibilidade de escutá-los.

Meu desejo é que ele floresça e que alguns outros possam pegá-lo com as duas mãos.

M. Laurinda R. Souza é psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Sedes Sapientiae, professora do Curso de Psicanálise e autora do livro Violência (2005) da Coleção Clínica Psicanalítica

1 Lispector, C. Crônicas para jovens de escrita e vida. RJ: Rocco, 2010.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gaza como Metáfora

Destraumatizar: pela paz, contra o terror

‘Onde estava o Isso, o Eu deve advir’: caminhos da clínica contemporânea por René Roussillon