Marielle e Anderson - A voz que fica quando um corpo vai
"O assassinato de Marielle e Anderson causou grande comoção. Vejam a seguir uma breve reflexão do grupo de pesquisa e trabalho do Departamento de Psicanálise do sedes Faces do Traumático, escrita pelas psicanalista e integrantes deste grupo Flávia Steuer, Marina Singer e Myriam Uchitel sobre este acontecimento".
Marielle e Anderson
A voz que fica quando um corpo vai
Comovidas pelo cruel assassinato de Marielle Franco, vereadora, mulher, negra, mãe, ativista e defensora dos direitos humanos e de Anderson Gomes, cidadão brasileiro, trabalhador, pai de família, também presente como tantos outros que morreram por exercer sua cidadania, buscando uma sociedade mais livre, justa e solidária, tratamos de pensar como resgatar da morte do corpo, a força da alma, a força das palavras, dos atos e gestos. Muito já foi dito e há ainda muito a dizer na tentativa de contornar, rearranjar os cacos e estilhaços que sobram dessa cena.
Surpresa, sobressalto, bloqueio, paralisia, ameaça à vida: são nomes que definem a condição do traumático. Fragmentação culpa, raiva, impiedosa interrupção da existência. São também efeitos da quebra.
O desmentido aprofunda a ferida no tecido social esgarçado. Muitas Marielles e Andersons se somam nas ruas, enquanto nas redes sociais boatos circulam na tentativa perversa de desmentir, de desqualificar as vítimas e justificar a barbárie.
Calar uma voz com rajadas fará o tiro sair pela culatra.
Parafraseando o crítico dramaturgo de pós guerras, Brecht sentencia: “aquele que não conhece é simplesmente um ignorante, mas aquele que conhece e diz que é mentira, este é um criminoso”.
Quando pensamos no trauma como interrupção e na ética psicanalítica como enlace, nos perguntamos: como propiciar o enlace como psicanalistas e cidadãos?
Precisamos responder ao susto, à perplexidade, à dor, ao sofrimento humano, com palavras e ações, com construção de história, significando e resignificando fatos para que não se instalem lacunas coletivas e para que possamos organizar respostas sociais.
Grupo de trabalho e pesquisa: Faces do Traumático
por Flávia Steuer, Marina Singer, Myriam Uchitel
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