Evento Testemunho e Experiência Traumática por Flávia Steuer e Marina Singer Figueiredo

O Blog do Departamento convidou Flávia Steuer e Marina Singer Figueiredo para contar sobre o evento Testemunho e Experiência Traumática. 

Nos dias 12 e 13 de abril de 2019 aconteceu no Sedes Sapientiae, o  evento Testemunho e Experiência Traumática, organizado pelo grupo de trabalho e pesquisa Faces do traumático do Departamento de Psicanálise. Idealizado em um formato que privilegiasse o intercambio interdisciplinar e interinstitucional o evento buscava uma polissemia para o campo do traumático.

No primeiro dia foram apresentados dois excelentes textos escritos por Mara Caffé e Mariana Wikinski - autora do livro Trabalho da Testemunha: testemunho e experiência traumática- , assim como um trecho editado do filme Orestes, do diretor Rodrigo Siqueira, o que possibilitou indagações sobre as possíveis relações entre a Psicanálise e o Direito, assim como o efeito da lei e dos processos legais na subjetividade e suas repercussões na sociedade.

No segundo dia, além de Mariana Wikinski, que salientou o valor terapêutico da fala e a importância do esquecimento, Marcelo Checchia e Marcio Seligmann  trouxeram a discussão  para o cenário politico social atual, assim como Paulo Endo que traçou um  paralelo entre o sonho como testemunha e as testemunhas dos sonhos e sua inestimável função para os sobreviventes dos campos de concentração. Ao final Camila Munhoz apresentou o texto  O eco e a fala,  produzido em conjunto com Clarissa Motta, Flavia Steuer e Marina Figueiredo, representando o grupo Faces do traumático, que refletiu sobre a ética do psicanalista ao testemunhar o potencialmente traumático.

Segundo Daniele Salfatis que assistiu ao evento, as questões ali suscitadas, mais do que respostas, salientam o papel da escuta, uma das grandes chaves de uma análise, desde as histéricas de Freud.  Mas quais seriam as nuances da escuta frente a um testemunho?  Marcelo Checchia , que faz a diferenciação entre a escuta do analista frente a um testemunho, e frente à associação livre, mostra que a narrativa, o testemunho de um trauma tem efeitos, e a posição do analista seria um lugar de testemunha de um dizer possível que talvez metabolize traços de um trauma, e em outros momentos o analista e o ato analítico, a interpretação.  Pensar o testemunho na clínica amplia o escopo da prática analítica, no psicanalista/testemunha de um sofrimento que escancara a impossibilidade de um todo dizer e ao mesmo tempo abre espaço para um discurso que coloca o traumático no aluvião da linguagem.  O psicanalista/testemunha que acolhe os ditos ,para além das conformações jurídicas ou históricas, que versam a partir da experiência singular do traumático, um arranjo de linguagem que nada vem a provar, mas se coloca na fala como lugar de representação daquilo que é irrepresentável.

Ana Maria Leal ressaltou a apresentação da psicanalista argentina Mariana Wikinski e dos outros convidados assim como o trabalho elaborado em conjunto pelas participantes do grupo, cujo empenho foi analisar o trabalho do psicanalista frente as difíceis questões de casos de traumatismo surgidos na clínica individual e de grupo.

Flávia Steuer e Marina Singer Figueiredo

Grupo Faces do Traumático
Ana Helena Seixas Campo, Camila Munhoz, Clarissa Motta, Cristiane Lopes, Erica Otsubo, Flávia Steuer, Iandara Uchôa, Juliana Wierman, Maria Angelina Guimarães Cabral, Maria Carolina Garcia, Maria Inês Tassinari, Marina Singer Figueiredo, Myriam Uchitel (coord.)

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