DIA FLAPPSIP, impressões sobre o evento

No dia 12 e 13 de abril ocorreu o evento Dia Flappsip organizado pelo grupo de apoio Flappsip e pelo Conselho de Direção (2024-2025). O evento permitiu boas discussões além de reunir colegas e amigos. Hoje postamos o primeiro texto de uma série de publicações sobre essa rica experiência. Confiram!


DIA FLAPPSIP, IMPRESSÕES SOBRE O EVENTO




Na noite de 12 de abril de 2024, sexta-feira, depois do coquetel de abertura, Daniele Breyton e Maria Beatriz Vannuchi, da comissão de apoio flappsip deram início ao evento Dia-Flappsip, dedicado a apresentação de 10 mesas para a discussão dos trabalhos de nossos colegas de Departamento apresentados no XII Congresso da Federação Latinoamericana de Associações de Psicoterapia Psicanalítica e de Psicanálise (FLAPPSIP) em outubro de 2023 no Chile.

         No sábado, conhecemos um pouco mais sobre o funcionamento da Federação e o papel da comissão do Sedes neste funcionamento. No final da manhã e início da tarde, tivemos 10 mesas, sendo 3 delas ateliês clínicos – com um proponente e um comentador – e as outras 7 compostas por 2 autores e um coordenador.

Abaixo seguem alguns comentários de participantes do evento e suas particularidades de experiências neste dia, que foi repleto de multiplicidades e pensamentos críticos.


Bruno José coloca:

"Como novo integrante do Sedes a partir do curso Conflito e Sintoma participei da apresentação dos trabalhos da Flappsip nesta semana de 12 e 13 de Abril. O coquetel, antes do evento principal, recebia as pessoas aos poucos. Dei a sorte de reencontrar, por acaso, amizades perdidas no tempo. Pude ver, além disso, desconhecidos reencontrar faces conhecidas, pude ver sorrisos e abraços sendo trocados em ternos afetos. Ninguém se sentava, todos de pé, animados, enquanto o banquete saudável e, ético a todos os estômagos, entrelaçou os tempos numa mesma sintonia. Era a premissa de um pequeno grande evento.

A fala do excelentíssimo Renato Mezan a respeito da violência em nossa sociedade, a qual é interligada junto a outros pensadores como Jurandir e Pablo Castanho, permite que ideias e indignações façam parte do escopo analítico para pensar a respeito da violência estrutural e psíquica que assola há décadas e séculos nosso país e a nós.

No dia seguinte tive a honra de participar numa discussão que expandiu os conhecimentos a respeito da clínica e da potencialidade do trabalho analítico. Porém, a grande surpresa foi a mesa composta por Lígia Ungaretti e Fernanda Almeida. Seus temas potentes e ardentes percorreram o auditório em sintonia à própria literatura e à própria vida. Ensinaram a todas as pessoas presentes o quanto a dor pode ser ouvida e cuidada diante de tal sofrimento transbordante.

Por fim, cada mesa teve sua potencialidade e impacto e, o evento em si, trouxe, neste cantinho do Sedes, onde o peso da rotina dos atendimentos às vezes parece pesar, encontros prazerosos e impactantes. Parabéns aos envolvidos e a todas as apresentações."


Gabriela Maia nos aponta: 

"A apresentação dos trabalhos FLAPPSIP deste final de semana foi um presente, com trabalhos tão sensíveis e delicados. Foram apresentados trabalhos que falavam do espaço comum de continência, em que os analistas se expuseram, nas suas próprias incertezas e angústias. Saí profundamente tocada da mesa que se propôs a debater a pandemia e o luto em famílias brasileiras.

Foi uma mesa continente, “algo que faz borda a uma certa desmesura” (título de um dos trabalhos, de Fátima Vicente), onde psicanalistas ficaram com lágrimas nos olhos ao falar deste outro tempo que é o do trauma. Falar do traumático e do que não tem ligação nos liga e faz nos reconhecemos enquanto humanos. Ao falar da experiência traumática da pandemia, na qual nos vimos sozinhos no espaço na luta pela sobrevivência, nos reconhecemos e nos identificamos, sobretudo com a especificidade do horror vivido em nosso país.

Foi uma mesa que tocou sobretudo na condição humana, nos oferecendo e nos presenteando com trabalhos que nos lembram que é possível a elaboração da experiência traumática da pandemia. O evento produziu em mim uma estranha sensação de pertencimento, de me sentir em casa, diferente da experiência da formação que pode ser vivida como disruptiva em tantos momentos, onde tantas vezes as nossas diferenças aparecem mais do que as semelhanças. Um evento que fez eu me sentir humana e pertencente, além de psicanalista."

 

Lucas Ribeiro Arruda compartilha suas impressões:

"Espaço de limiares, o espaço do 'entre'. Não é como uma fronteira que se 'contém' algo, ou se extrapola em um excesso. Ao contrário, o limiar entre uma coisa e outra está sempre presente na 'transição'. Na situação analítica isso se apresenta como um 'ousar' analítico, onde no caso apresentado de uma criança de 5 anos o analista pode se colocar 'na cena' que a criança ia estabelecendo…

Essas foram algumas rápidas impressões da apresentação da mesa 3 no Dia Flappsip, onde ambos os trabalhos apresentados produziram uma complementaridade de tema que conversou muito com os ouvintes, gerando uma discussão a respeito dos limites e possibilidades tanto de uma situação analítica como de situações sociais. A questão que se delimitou para mim foi a de como procurar esse 'limiar' que conta com transições subjetivas sem se perder em excessos por parte do analista. O que pude entender dessa minha questão colocada foi que os limiares sempre ocorrem 'no espaço', ou seja, cada espaço conta com sua própria delimitação específica de um limiar.

Não posso deixar de pensar também no próprio propósito da FLAPPSIP, de encontrar 'brechas' de reflexão, limiares de atuação, para que se produza transformações históricas e subjetivas."

* * *

Durante as próximas semanas, estaremos publicando alguns vídeos de pessoas compartilhando um pouco sobre seus trabalhos e experiências no evento, agora sob a perspectiva dos apresentadores. Esperamos que apreciem, caros leitores! Reforçamos que estamos abertos a todos que desejem compartilhar suas impressões e escritos sobre este ou outros assuntos.


Bruno José Monte Rey da Cunha. Escritor e Psicólogo formado pela PUC-SP. Membro da Equipe Tempo - At no envelhecimento e Psicólogo clínico de crianças, jovens, adultos. Atualmente aluno do curso de aperfeiçoamento Conflito e Sintoma.

Fernanda Borges. Psicóloga, mestre em Psicologia Social pelo IP-USP, especialista em transtorno de personalidade pelo Amborder/Unifesp, psicanalista e membro do Departamento de Psicanálise do Sedes.

Gabriela Seguim Maia de Souza. Psicóloga, psicanalista e AT no campo da infância. Atualmente em formação no curso de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.

Lucas Ribeiro Arruda. Psicólogo pela PUCSP, ex-aluno do Curso Conflito e Sintoma e concluiu no ano passado o Curso de Psicanálise do Sedes Sapientiae. Membro aspirante do mesmo instituto. Trabalha como Acompanhante Terapêutico (AT) no Instituto A Casa.

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