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Mostrando postagens de novembro, 2024

Lutos possíveis e impossíveis

Gustavo Battagliese faz uma rica e interessante discussão sobre os lutos possíveis e impossíveis a partir do conceito de roubo de experiência de Bollas e das diferentes formas de morrer trazidas pelos filmes: Ainda estou aqui e O quarto ao lado.   LUTOS POSSÍVEIS E IMPOSSÍVEIS Gustavo L. Battagliese   Não é segredo que a eutanásia foi a escolha de Freud, na época pactuada em segredo com seu médico pessoal. Hoje, 85 anos depois, o debate sobre eutanásia e suicídio assistido tem mais espaço na sociedade e na mídia. Apesar disso, essa reflexão progressista é alvo de ataques e tentativas de sanções reacionárias. Recentemente, nos aproximamos de reflexões a respeito em decorrência da morte de Antônio Cícero e sua comovente e franca carta final. Mais recentemente ainda, no último fôlego desse ano marcado por signos de fim e catástrofes iminentes, somos presenteados com duas pérolas cinematográficas: “O Quarto ao Lado”, de Pedro Almodóvar, e “Ainda Estou Aqui”, de Walter ...

Morte como Vida - pequenas reflexões a partir de Antônio Cícero

Texto lindo e sensível de Miriam Chnaiderman em que, sob o impacto da morte programada de Antonio Cicero, e com muita delicadeza, discorre sobre aqueles (poucos) que escolhem a poesia para viver e morrer. Confiram:   MORTE COMO VIDA - PEQUENAS REFLEXÕES A PARTIR DE ANTÔNIO CÍCERO não sei bem onde foi que me perdi; talvez nem tenha me perdido mesmo,  mas como é estranho pensar que isto  aqui fosse o meu destino desde o começo.   “Desbarrar” e Guardar – antônimos complementares Quando soube que Antônio Cícero tinha morrido, ou melhor, escolhera morrer, estava lendo o lindo texto de Karin Cruz Torres, “Mas allá de Tosquelles”, na Percurso 71. Esse dado marca a construção dessa pequena crônica em que busco homenagear a coragem de ser coerente com a escolha pela vida. Nesse meio tempo, fui assistir ao filme de Almodóvar, “O quarto ao lado”. Então há três tempos nesse ensaio:     1.  Tosquelles     2.  Antônio Cícero ...

Pranto para Samia Yusuf Omar (1991-2012)

“Corro com ela. Aflita. Presa na poltrona do cinema”. Foi sob este impacto que M Laurinda R. de Sousa escreveu este lindo, mas difícil texto sobre Samia e seu destino. Confiram: PRANTO PARA SAMIA YUSUF OMAR (1991-2012) Samia! Samia! Samia! Uma corrente de vozes solidárias ecoa com força. As pessoas levantam-se.  Se possível fosse, correriam junto com ela.          Não foi Samia quem subiu ao pódio dos Jogos Olímpicos de Verão de 2008, em Pequim. Chegou ao final, mas a vitória foi dela. No retorno para casa, o aviso tantas vezes anunciado: “Tome cuidado; sua vida corre perigo”. Samia fez um longo percurso até chegar a Pequim. Desde pequena corria pelas ruas esburacadas de Mongadíscio, subia pelas calçadas que abrigavam materiais à venda, entrava pelas vielas, enfrentava os gritos dos vendedores espalhados nas feiras cotidianas, o assédio dos militantes locais; muçulmanos que não toleravam essa menina mais veloz que o vento, ...

O Pai da Horda Pós-Moderna

Em O Pai da Horda Pós-Moderna ,  Daniel Modós faz uma retrospectiva histórica da modernidade para tentar compreender como chegamos no momento atual em que postos de liderança são ocupados por Mileis, Trumps e Bolsonaros. Qual função o líder pós-moderno exerce? Qual ideologia ele encarna? Há esperança de mudança?    O PAI DA HORDA PÓS-MODERNA O que aconteceu com os líderes modernos? Onde andarão os Churchills, os Roosevelts, até os Stalins... aquelas figuras sólidas, verdadeiros bastiões, práticos, operacionais, hiperracionais até as raias do absurdo, em uma palavra: autoridades seguras que encarnavam os ideais de ordem, razão e praticidade da Modernidade. De algum tempo para cá temos nos surpreendido com a proliferação de líderes mundiais bufões, ridículos e espalhafatosos, que se colocam como “outsiders”, figuras disruptivas que lutam contra o que chamam de “O Sistema”. Essas figuras obscenas que parecem zombar da política que praticam já vem desde há muito...

Sobre viver com o fascismo

Ivan Martins discute as consequências preocupantes da eleição de Donald Trump e como sobreviveremos à consolidação do poder neofacista que afeta a todos nós. SOBRE VIVER COM O FASCISMO A eleição americana liquidou a esperança de que pudéssemos voltar aos tempos normais neste planeta conturbado. O fascismo, a misoginia e a religiosidade reacionária triunfaram pelo voto popular no país mais rico do mundo - que é também o mais poderoso militarmente e o mais influente em termos de ideologia. Isso terá consequências sobre o resto de nós. É doloroso perceber que Donald Trump se elegeu com um discurso descaradamente misógino num país onde as eleitoras são maioria e costumam votar em maior número. Imaginava-se que seus delírios masculinistas – e a ofensas chulas que ele e seus cúmplices dirigiram a Kamala Harris – pudessem afastar em massa o eleitorado feminino, mas isso não aconteceu. O macho arrogante e mentiroso que criou as condições para a eliminação jurídica do direito ao aborto - ...