Peru, Lima e o Congresso FLAPPSIP
Ainda no encantamento deste encontro entre o Peru e o evento Flappsip, Renata Puliti nos premia com seu texto. Confiram.
PERU, LIMA E O CONGRESSO FLAPPSIP
Que difícil condensar uma breve narrativa sobre essa profusão de encontros, com tantos impactos.
A lenta descoberta de Lima com suas profundas contradições?
A gentileza tocante dos peruanos e os ruídos da violência contra as manifestações que ocorriam, às voltas com a decretação do estado de emergência na cidade?
As oliveiras centenárias? O ceviche dos Deuses?
A ancestralidade ameríndia, um tanto apagada aos olhos eurocêntricos?
Os sítios arqueológicos, como bolsões de tempo incrustados na metrópole, deslocando-nos silenciosamente aos antigos rituais e urnas funerárias, uma torção nos tempos atuais?
E a surpresa com o acervo do Museu Larco, uma coleção de peças de civilizações pré-colombianas com mais de 5.000 anos de história e, a maior surpresa, a Galeria Erótica, nos revelando uma impressionante comunhão entre a sexualidade, o erotismo e o mundo dos mortos na cosmovisão ancestral!
Foi nesse contexto que se deu o Congresso Flappsip - Eros, Alteridade e Criatividade em Tempos de Assombro. O Pulso atual da Psicanálise.
Foi a experiência de uma psicanálise diversa, arejada e atenta, junto a produções mais canônicas.
Um encontro marcado pela experiência da comunidade, da amizade e do comum. E, claro, com suas contradições, ruídos e inquietações.
Ressalto um dos muitos aspectos que me fez retornar revigorada, a nova geração de psicanalistas compondo com analistas das gerações anteriores, com trabalhos atentos aos tempos, corajosos, insurgentes, interrogando a própria razão de ser da psicanálise. Não se furtando ao assombro cotidiano que nos diz respeito como psicanalistas e sujeitos, e a permanente reflexão que nos exige.
Alguns aspectos e temas que ressaltaria: vários analistas negros e a potência da questão racial em suas múltiplas dimensões, clínicas e institucionais; a fome como arma de guerra; os sonhos dos moradores de rua; jovens peruanos impactados com a dimensão crítica de alguns trabalhos apresentados, com seu indissociável comprometimento social, dando voz aos excluídos e invisibilizados. Afirmando a psicanálise em sua inegável dimensão política e questionadora.
Vale um destaque para a qualidade dos trabalhos apresentados por este Departamento e o esforço para sustentar uma psicanálise viva.
Por ora, que o tempo nos dê o fôlego de digerir o que nos foi apresentado, já antecipando o que está por vir no ótimo filme que Miriam Chnaiderman nos presenteou.
Que venha o próximo Congresso!
Renata Puliti é psicanalista e membro do Departamento de Psicanálise do Sedes Sapientiae
Que belo texto Renata! Eu me vi em suas questões/afirmações! Que experiência rica que tivemos! Obrigada!
ResponderExcluirFoi intenso mesmo, Renata. Obrigada pela leitura!
ExcluirQue bom ouvir sua voz e seu encanto com essa diversidade e com a potência das insurgências. Em tempos de tantas chacinas, precisamos de muitas insurgencias para romper com os poderes distópicos.
ResponderExcluirBem colocado, Laurinda.
ResponderExcluirTempos distópicos.