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Mostrando postagens de maio, 2020

Efeitos desse Tempo

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Em Efeitos desse Tempo , Yone Maria Rafaeli trata do descompasso que vivemos. Da brecha funda que se abriu entre tempos, entre o lembrado e o não sabido. Já que sabemos pouco, cuidemos do perto.   Foto créditos - J. Enrique R. B. Pico Efeitos desse tempo.                                                       Ainda tenho quatro bananas. Ainda tenho 2 horas para chegar em casa, tomar banho, me arrumar e chegar ao cinema... Nossa!   Combinei com a Cléo que estaria no café do teatro as 19:30 horas... Estou atrasada, mas já estou chegando...o trânsito está péssimo, mas o waze me diz que em meia hora eu chego. Cenas de janeiro de 2020 no calendário.   Não passou tanto tempo assim, mas no registro das memórias elas estão bem longínquas.   São cenas que não fazem links com as experiências do momento.   Não tem sessão de cinema para ir, não tem mais café marcado com as amigas. A nostalgia do vivido retorna quando minha irmã diz na tela do celular:   vou te mandar

Clausura

"Clausura"! Neste texto Cristiane Gonzalez fala sobre o enclausuramento neste momento de isolamento social. A autora aborda a questão do encontro e do desencontro com o Real, com a realidade e com o outro que se ouve e se vê de longe. CLAUSURA Cristiane Gonzalez Comecei com a quarentena em primeira pessoa. Minha visão particular do isolamento, em casa, sozinha, e tomada pelo trabalho que acelera além do limite, oprime e atropela, desconectado do que acontece lá fora. A lógica corporativa, dos objetivos antes que as pessoas, se reafirma e acentua a sua natureza cindida. Pandemia, que pandemia? Cumpram-se os prazos! O texto nem chegou a tomar fôlego, cortado no primeiro filtro. Da total e concreta insanidade em que estamos imersos, desviar o foco para a loucura corporativa se revelou o delírio do delírio. De repente era eu que dava mostras de romper com a realidade. E se nada mais parece cabível perante esse Real onipresente e esmagador, restaria ele mesmo

Nelson Rodrigues e o Problema Econômico do Psiquismo

Nossa colega Gisele Senne de Moraes evoca trechos de duas perturbadoras crônicas de Nelson Rodrigues sobre a gripe espanhola para pensar a angústia nos dias atuais. Nelson Rodrigues e o Problema Econômico do Psiquismo Gisele Senne de Moraes Em meio às recorrentes mensagens virtuais, recebi um link para uma página do site da Biblioteca Nacional com o seguinte título: “Quem não morreu na Espanhola? - Memórias de Nelson Rodrigues no Correio da Manhã”, onde são lembradas duas crônicas deste autor sobre a gripe espanhola (“peste”). Nelson Rodrigues tinha seis anos quando a “peste” assolou o Rio de Janeiro. Suas agudas palavras nos conduzem para memórias de uma tragédia. Recomendo a leitura das crônicas, publicadas nos dias 08 e 09 de março de 1967, no Correio da Manhã (link no final do texto). “A morte estava no ar e repito: - difusa, volatizada, atmosférica; todos a respiravam” , disse o autor . Esta passagem me fez pensar no comentário de um paciente que disse, no início

O divã de Drummond

Rafael Pinto Morais é estudante do primeiro ano do Conflito e Sintoma do Departamento de Psicanálise. Escreve neste artigo, através da leitura de alguns poemas de Drummond, a respeito da travessia que tem que ser encarada por aqueles que não são tão covardes para serem otimistas. Não estamos plenos. Nos sentimos impotentes e desamparados. E daí? O DIVÃ DE DRUMMOND Por Rafael Pinto Morais* Considero Elegia 1938 o poema de maior beleza da chamada fase social de Carlos Drummond de Andrade. E desconfio que não esteja sozinho. Em uma série de vídeos de renomados artistas recitando Drummond, que pode ser acessada no Youtube,   Caetano Veloso tem em mãos justamente esse poema. Em uma primeira tentativa de enunciá-lo, Caetano não consegue: com voz embargada, ele suspira e seus olhos se enchem de lágrima. Ao invés do poema, silêncio, uma dor, o corte para o segundo take , e só aí aparece a bem sucedida declamação.   Ao longo de Elegia 1938 , o eu lírico apresenta-se em tensão com

O psicanalista na pandemia: alguns riscos

Nossa colega Marcia Arantes discute questões acerca do fazer do psicanalista no momento da pandemia. Estamos todos no mesmo barco? Quais os impactos da pandemia e das sessões online na transferência e na prática clínica de modo geral? Quais são agora e quais serão os efeitos da pandemia sobre a psicanálise?   Confiram! O psicanalista na pandemia: alguns riscos Marcia Arantes A frase “o mundo não será o mesmo após a pandemia” tem ecoado em nossos ouvidos cotidianamente, vinda da boca de jornalistas, comentaristas, profissionais de saúde. Em nossas práticas como analistas, sentimos os efeitos dessa crise. Alguns desses efeitos são evidentes, como o fato de estarmos atendendo online a grande maioria de nossos pacientes. Outros não são evidentes, e para eles devemos estar alertas. Repercutem na transferência, na nossa escuta, no modo como valorizamos a associação livre e a atenção flutuante. Pandemia, palavra de origem grega, significa aquilo que pode atingir todo mu

Um estranho na minha quarentena

Na crônica "Um estranho em minha quarentena" Danilo Furlanetto encara a si próprio na solidão do confinamento. Confiram. Um estranho na minha quarentena Danilo Furlanetto Percebo-me novamente em minha modesta sala de estar, só, com a visão fixa num horizonte inexistente, para além da tela preta da televisão. Estático, à deriva na minha própria intimidade, como mais um móvel empoeirado compondo essa exaustiva moradia que costumava ser chamada de lar. O abajur ao lado, luz fraca, monocromática. A mesa de centro manca, sempre me encarando, cobrando-me: “Ei, você, vai ficar aí o dia todo?”. Tento não dar atenção a ela, afinal, é apenas uma mobília, mas também não deixo de pensar por um só segundo que talvez ela tenha razão, sábio pedaço de madeira. Já se vai mais de um mês de quarentena, ou seriam dois? Os dias fundiram-se uns aos outros, atropelaram-se, o tempo insiste em passar diferente, em driblar o calendário da parede do escritório, ao qual costumava ser tão

Isolamento Social e a Psicanálise a Distância: uma forma de manter o espaço analítico?

Nossa colega Eloisa Tavares Lacerda compartilhou com o Blog suas experiências de atendimentos à distância, desafio que todos nós psicanalistas estamos enfrentando na atualidade com a indicação de isolamento social como forma de enfrentamento da Pandemia.       Isolamento Social e a Psicanálise a Distância: uma forma de manter o espaço analítico? Eloisa Tavares de Lacerda O que é mobilizado no analítico face a face é de natureza completamente diferente do que ocorre no dispositivo “divã-poltrona”. (Diana Tabacof) Em três situações distintas precisei me dispor seja a um acolhimento, seja a um atendimento de forma não presencial. A primeira, há mais de 12 anos, foi a consulta de uma pessoa que me encontrou na internet. Essa mãe tinha um filho de um ano e quatro meses, julgado autista, e a família já estava se preparando para se mudar para os EUA, onde encontraria, seguindo uma recomendação, um atendimento cognitivo comportamental. Como estava com dúvidas, recorreu