E o frio chegou quentinho...
Autora do livro “Tempos Pandêmicos” Maria
Silvia Borghese registra em um texto delicioso, o clima de nosso evento de
25 de maio. Confiram:
E
O FRIO CHEGOU QUENTINHO...
Depois
de quase 20 dias de um calor intenso, seco e exaustivo, em pleno outono de São
Paulo, havia previsão de que finalmente dias frescos viriam. Na realidade, o
verão, que tinha chegado ainda na primavera, teimava em não ir embora,
esfregando na cara dos negacionistas
de plantão o tal do aquecimento global. Os tempos seguem muito difíceis, ainda trazendo
a cada dia um novo normal.
Naquele
sábado, então, acordo cedinho para dar conta das importantes atividades da
manhã, respirando profundamente o ar geladinho que deixei entrar alegremente
pela janela do quarto. Aprontei-me rapidamente e corri, um pouco atrasada, para
o Sedes. Afinal, teríamos o coquetel de lançamento de Tempos pandêmicos, o livro do Blog do Departamento de Psicanálise.
Nosso
Blog existe desde 2015. Ali, as várias
gentes se expressam livremente através de prosa e poesia, depoimentos e
reflexões. A despretensão do Blog sempre foi, a meu ver, sua qualidade mais
importante. Vivemos cheios de compromissos, estudos e referências, o rigor
acompanha nosso dia a dia de produções e publicações, mas no Blog é outra coisa.
Ali é o espaço da escrita direta, encarnada, desencanada, espaço de troca, de
conversa.
Não
foi à toa que o Blog acabou se tornando um abrigo importante para todas e todos
aqueles que sentiram a necessidade de se expressar no período da pandemia do
Covid-19. No Brasil, vivíamos duas catástrofes simultaneamente, a pandemia e a
ascensão do fascismo a la bolsonarismo. Tempos
pandêmicos, tempos difíceis, vivências cruas, inusitadas, assustadoras. Entre
outras frentes de resistência que pudemos encontrar ou construir, esteve sempre
lá o blog. E os textos iam chegando, mais e mais, diversos, ricos, vibrantes.
Esses
registros dos tempos atravessados
foram, ao mesmo tempo, contando histórias, abrindo reflexões, abrindo a janela
de nosso isolamento. O Blog nos juntou a todas e todos nesse jeito de ir
compreendendo o quanto necessitávamos de companhia, de trocas amorosas, de
abraços e beijos, de caricias e carinhos.
Assim,
na manhã finalmente fria de 25 de maio, o lançamento de Tempos pandêmicos, naquele espaço de convivência tão nosso no
Sedes, trouxe um quentinho no coração
de cada um de nós. Como diz a moçada: que
vibe!! Éramos quase 50 autores, mais o grupo de membros do Blog, as
organizadoras do livro e mais um monte de pessoas queridas que foram chegando.
Quantos abraços apertados, risadas, conversas paralelas, autores autografando
em pé, sentados, trocando seus livros, que depois se perdiam em diferentes
mãos, misturando assinaturas, mesclando tantos afetos. Foi uma deliciosa
brincadeira coletiva: tão quentinha. Há
tempos saímos do isolamento social que se abateu sobre alguns e/ou da exposição
compulsória que tanto amedrontou tantos outros, mas ali, naquela manhã de
lançamento, certamente estávamos ainda resgatando e comemorando nossa
capacidade de sobreviver e resistir. Ainda vamos precisar muito dela.
E
esse livro conta história. Histórias que são frutos de caminhadas roubadas, tímidas
inicialmente, quando era preciso reconhecer terrenos, reexplorar territórios, quando
nos aliviavam as reflexões sobre o isolamento, o relato das conversas
identificadas em uma clínica online surpreendente. Tudo isso está no livro, e
foi lindamente observado e relatado por Miriam Chnaiderman em sua fala na manhã
do lançamento. Nossa colega, psicanalista e cineasta, andarilha das cidades,
passeou quase que literalmente pelo livro e recontou as histórias que ele traz,
ali sentada à mesa, como quem toma um cafezinho e conta causos.
Tudo
nesse dia friozin de lançamento de Tempos pandêmicos foi assim:
deliciosamente quentin, quentin. Preciso
dizer mais?
Maria
Silvia Borghese é membro do Departamento de Psicanálise e
autora do livro “Tempos Pandêmicos”.
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